O que nos recomendas para aprendermos a morrer em paz?
Quando saímos do meramente conhecido, a primeira coisa que encontramos é o
mundo dos nossos pensamentos, em particular, os maus pensamentos, convertidos
em imensos dragões, monstros ou pestilentas deformações que nos vão produzir um
temor equivalente à maldade que, estando vivos, pusemos neles. Aí vamos
adquirir a consciência de todas as repercussões que pode ter um simples mau
pensamento, que omitimos ao acaso.
Aqui, neste primeiro
passo depois da morte, não existe enganos como ocorriam na vida. Durante a
vida, quantas vezes emitimos pensamentos de crítica ou de ódio sobre os quais
não paramos para medir o seu alcance. Aqui, neste primeiro estádio, vamos
vivê-los e sentir de acordo com a magnitude que alcançaram na vida e afetaram
não somente a nós próprios como também aos demais.
Uma mudança na tua
atitude mental que, no momento da morte te permita vislumbrar uma verdade
espiritual, pode gerar uma volta completa na tua vida depois da morte e, embora
isso não te retire o karma que acumulaste
e que terás que pagar inexoravelmente não somente gerará skandhas positivos que recolherás na tua próxima encarnação, mas,
também, te dará passagem a novos estados de consciência. Isto é o que muitas
tradições religiosas recolheram como a ideia de arrependimento na hora
derradeira da morte, pois os últimos atos ou pensamentos do ser humano, no
momento da morte, produzem um efeito enorme e importante na vida futura.
Nunca é tarde para
compreender. O esforço derradeiro é transcendente. E mais, se recebes estes
ensinamentos e os assimilas com boa vontade e bom senso, inclusive antes da
morte ocorrer, pode gerar uma mudança radical na tua consciência, uma espécie
de «giro copernicano», em que o sol da tua vontade faça girar tudo em seu redor
e sintas que os erros cometidos na vida, sobre os quais, de qualquer modo,
terás que responder inexoravelmente, no entanto deixarão de ser primordiais,
para se colocarem, no balanço do teu Destino, num âmbito secundário, deslocados
pela luz da tua vontade.
Goethe no momento da sua morte exclamou «Luz mais
Luz».
Tenta transitar pelo
reto caminho, preparando assim a segunda parte da tua vida, já que é melhor que
sintas temor agora perante os monstros da maledicência, do egoísmo ou da
maldade e melhores a tua vida alcançando a virtude, a que te assustes nos
primeiros momentos da morte quando os maus sentimentos se apresentarem diante
de ti com a forma aparente de terríveis dragões que tu mesmo criaste.
“(...)
em cada personalidade terrena e através das diferentes experiências, a essência
das qualidades espirituais e de autoconsciência permitir-lhe-ão seguir
evoluindo até se converter num ‘Ser divino’. Por
isso, não deixa de ser uma ironia que chamemos sono à realidade que encontramos
na morte e vigília à ilusão que nos afunda no mundo das formas aparentes da
vida, em Maya, como nos recordam as tradições hindus.”
Quando consigamos
compreender esta ideia passaremos para outro estádio e segundo a convicção real
que os nossos Mestres e guias espirituais perceberem em nós já estaremos a
começar a vislumbrar as formas, características da nossa própria vida superior.
Por isso, é preciso que estudes e assimiles, nesta primeira parte o teu período
chamado vida, todos os ensinamentos para que, quando chegar o momento de viver
a segunda etapa da tua vida, no que vocês chamam morte, não encontres pedras
que entorpeçam o teu caminho e possas chegar mais rápido à Luz.
Existe consciência
de estar mais além da vida física ou há confusão?
Uma vez que se tenha
superado a passagem do túnel, com todas as concomitâncias, onde podem dar-se
momentos de confusão, pode-se dizer que, então, se passa ao mais além.
Volto a insistir na
importância de te preparares nisto que chamas vida, enquanto estiveres
encarnado, com o objetivo de alcançar a morte de uma maneira filosófica, que
significa entender que a morte também inclui o que hoje entendes por vida. Na
medida em que conseguires converter estes conceitos numa filosofia de vida,
menores serão os teus conflitos na segunda parte da tua vida e recorda que a morte
não significa separação, mas pelo contrário, uma subida e uma união para
aquelas pessoas que, como tu, assimilaram o conceito filosófico da Universalidade.
Durante a vida
devemos pensar na morte, sem que isso seja um sentimento macabro?
Macabro é, pelo
contrário, o materialismo imperante que nos faz acreditar que tudo se resolve
na matéria física. Por acaso é macabro pensar no sono durante a vigília? Acreditar
que a morte é o final da existência é um conceito nefasto e materialista que
nos faz sofrer desnecessariamente. A falta de conhecimento gera dor, por isso é
importante que os seres humanos comecem a conhecer o que ocorre mais além
daquilo que chamam vida, como do mesmo modo começa a ser útil que conheçam,
também, os segredos do sono, mais além da vigília.
Com efeito, é o que
no budismo tibetano se chama Avidya, a ignorância, a falta de Conhecimento que é
uma das principais causas de dor.
Se durante a vida
não trabalhamos a consciência do mais além, quer dizer, que não tenhamos tomado
consciência da nossa alma espiritual, e somente estivermos aferrados à nossa
alma humana, poucos serão os elementos espirituais que teremos desenvolvido na
nossa parte imortal. No caso de um negador consumado dos princípios imortais, a
sua alma humana não terá recebido nenhuma influência da alma divina já que a
sua mente negou a sua existência, no período da sua morte vagueará cego, sem
consciência, perdendo as oportunidades de conhecimento que o desencarnar
oferece e cairá, na medida em que não tenha sido perverso, como numa espécie de
sono plácido sem sonho. Tanto a
consciência após a morte como a consciência da imortalidade são atributos
condicionados que são devedores das circunstâncias e crenças criadas pela alma
humana durante a vida no corpo.
Do mesmo modo que no
mundo físico, o mundo espiritual também tem as suas leis que são imutáveis,
quer dizer que não existem exceções; portanto, existem leis para os que querem
ver a leis para os que optaram por permanecer cegos. Tudo dependerá daquilo que
tiveres feito com o teu livre arbítrio durante o período na terra, já que a
medida que vais passando pela existência humana, negando a vida ultraterrena,
irás atrofiando os sentidos espirituais e vaguearás durante o período da morte,
como numa espécie de “desmaio espiritual” que te fará perder as importantes
possibilidades de evoluir e que esta segunda parte da vida te outorga.
É a Lei da
continuidade, o Karma que atua de
maneira permanente e incessante, durante o período da nossa vida ultraterrena,
ali onde colhemos os primeiros frutos daquilo que semeámos na nossa vida
terrena, e, além disso, continuaremos a colher na seguinte encarnação. Então,
se depois da morte, a nossa alma recebe as recompensas pelos sofrimentos
aparentemente desmerecidos que padecemos durante a vida, o castigo para um
materialista consumado será a ausência de qualquer recompensa e a perda da
felicidade consciente e do repouso...
A Lei de ação e
reação, o Karma, atua em todas as
partes da existência e é o motor que nos vai outorgando consciência, pois como
disse Siddhartha Gautama “o Buda”, “a dor é veículo de consciência”...
Com o objetivo de
alcançar uma existência consciente nos estados posteriores à morte, existe uma
chave importante que nos diz para começar a compreender e tomar consciência, da
existência da vida no mais além durante a nossa existência terrena, tal como
nos ensinaram as filosofias que nos recordam a imortalidade da alma e da
consciência ultraterrena, já que o Ego receberá, sempre, de acordo com os seus
méritos. Quando a morte acontece, este Ego poderá assumir três tipos de estados
segundo o grau de consciência que o desencarnado tiver alcançado, um período de
plena, clara e absoluta consciência, um estado de sonos caóticos ou um estado
de sono sem sonhos muito parecido a nada... do mesmo modo que os sonhos que
temos durante a nossa vida são o resultado de visões inconscientes recolhidas
durante as horas de vigília. Durante a morte seguimos o programa daquilo que
foi aprendido na terra, quer seja consciente ou inconsciente e, na medida em
que despertemos a nossa consciência durante a encarnação, teremos a consciência
mais desperta durante o período da morte.
Não esqueças que a vida espiritual é a vida depois
da morte, é a verdadeiramente real, uma vez que a nossa vida na terra é um jogo
de espelhos e de forma ilusórias. Movemo-nos no plano de Maya, quer dizer, como
antes te indiquei, creio que até ao esgotamento, num plano ilusório, já que a
única realidade é constituída pelos períodos vividos depois da morte, em que a
nossa alma se encontra de frente para a Verdade até que o Ego, depois da
experiência de múltiplas reencarnações e desencarnações, alcance a consciência
do Todo Divino. Segundo aquilo que uma pessoa acredita e espera após a morte,
esse será o estado que alcançará...
Estamos a viver num
planeta em que tudo está em movimento e a esse movimento chamamos vida,
esquecendo que esse movimento também continua durante a morte. Quando o
movimento aparente cessa, equivocamo-nos chamando-lhe morte, porque a
verdadeira vida não é esta, não esqueçamos que tudo é movimento e vibração.
Isto é somente uma aprendizagem, porque a verdadeira vida é aquela em que se
pode conviver com os Deuses ou os Seres Celestiais. Nesta, que chamamos vida,
somente albergamos a sua recordação e é justamente aqui, enquanto vivemos,
encarnados na terra, onde temos que aprender com o nosso livre arbítrio a saber
conviver com os Seres Superiores, com as Ideias puras, com os Arquétipos, como
o divino Platão nos recordava tantas vezes... “Deuses sois e o haveis
esquecido”, dizia-nos...
A morte é um
“nascimento para uma vida superior”, pois é ali que a alma regressa ao seu
verdadeiro estado, já que no corpo encontra-se desterrada, como numa prisão,
por isso, os textos antigos falam da “alma prisioneira”. Um prisioneiro
lamentaria que o libertassem das suas correntes? Não deve, portanto, lamentar a
alma, e asseguro-te que não o lamenta, quando se encontra novamente na sua
verdadeira casa que é o que chamou o plano da vida subjetiva em contraposição
ao plano da vida objetiva que é a que a alma realiza na terra. “Vida
subjetiva”, a verdadeira vida da alma, o próprio termo dá-te a chave...
Para alcançar a
consciência depois da morte é necessário tê-la aperfeiçoado durante a vida, já
que o Ego receberá sempre de acordo com os seus méritos. Tudo dependerá do que
tenhamos feito durante a vida e da consciência que tenhamos adquirido da nossa
imortalidade já que “durante o sono da morte” iremos desenvolvendo as nossas
crenças e as imagens criadas por nós mesmos. Isso permitirá ao Ego recolher, em
cada personalidade terrena e através das diferentes experiências, a essência
das qualidades espirituais e de autoconsciência que lhe permitirão ir evoluindo
até se converter num “Ser divino”. Por isso, não deixa de ser uma ironia que
chamemos sono à realidade que encontramos na morte e vigília à ilusão que nos
afunda no mundo das formas aparentes da vida, em Maya, como nos recordam as
tradições hindus.
Quando se sabe que
estamos preparados para dar um passo mais é quando realmente se tem o
sentimento e a consciência de que se está a fazer muito pouco. Por isso, apesar
de tantos ensinamentos que foram legados através dos séculos, sobre a ideia de
que a morte não existe, pois a vida continua, os seres humanos não conseguem
sair da confusão de conhecimentos teóricos que, na realidade, não conseguiram
vivenciar e sofrem, portanto, quando lhes chega o momento da morte própria ou
alheia. Teoriza-se muito, mas encarnam-se pouco as ideias.
Quem nos vem buscar
no momento da morte?
Vêm-te buscar os
teus próprios pensamentos e, além disso, o “Daimon” que te acompanhou durante
toda a vida, o teu anjo guardião, mas nesses momentos, acreditarás que não está
presente porque deves passar a prova por ti mesmo. Também verás o reflexo dos
teus entes queridos que se encontram na outra margem e aí farás um resumo da
tua vida. Depois terás que caminhar, aparentemente sozinho, para superar o
túnel e chegar, pelos teus próprios méritos, à Luz. A vida no mais além será o
resultado do que tiveres semeado na terra e quanto mais labor espiritual
tiveres realizado mais sublime será a tua passagem pela morte.
Podemos perder-nos
nos labirintos da morte, como aquele ladrão de túmulos que se perde nos
labirintos das catacumbas, porque o azeite da sua lâmpada era insuficiente.
Assim também se perdem os que não puderam produzir azeite suficiente para a sua
lâmpada durante o tempo em que estiveram encarnados.
Esse que se perdeu
nos labirintos da morte é porque penetrou por curiosidade arrombando portas que
estavam fechadas. Buscando tesouros que não tinham merecido. Esse que roubou a
sabedoria dos livros e não a pôs em prática. Porém, no final, terá que
despertar para a Realidade e compreenderá o erro que cometeu por negar o que É,
apoiando-se no que Não-é. Enfim, põe em
prática tudo o que sabes e transmite com o teu exemplo o Conhecimento da vida e
da morte do mais além, a todos aqueles que desejarem aprender as chaves e os
segredos da existência humana.
Uma história:
“Contam que, num
dia, frente às portas de Alexandria se encontrava o sábio Paracelso e que ao
ver passar a peste acompanhada pela morte lhes perguntou aonde iam. Elas
responderam-lhe que iam à cidade para levar os que iam cair vítimas da doença.
O velho Paracelso solicitou-lhes que não levassem mais almas do que as
necessárias, ao que a morte respondeu que fazia sempre assim. Paracelso não se
mostrou de acordo e disse-lhe que então lhe dissessem agora quantas almas
levariam e que ele as esperaria para confirmar se era certo o que lhe diziam e
que, além disso, ele como conhecedor das artes médicas iria à cidade para lutar
contra a peste. A morte e a peste disseram-lhe que levariam somente duzentas
almas e partiram. Ao cabo de um mês, Paracelso voltou a encontrá-las, tal como
tinha ficado combinado, à saída de Alexandria. Ao ver as carroças carregadas de
corpos, o sábio deteve a morte e perguntou-lhe quantos corpos levava e a morte
responde-lhe: Mil. Paracelso questionou, incomodado, por que lhe tinha
enganado, ao que a morte lhe disse: “Eu não te menti, cumpri com a minha
palavra. Recolhi somente duzentas almas”. Paracelso replicou: “E as oitocentas
restantes?” A morte retorquiu: “Volto a
confirma-te que eu cumpri a minha promessa, a essas não as matei, essas
morreram de medo.”
“No
instante da morte, a alma alcança os mesmos mistérios que os grandes
iniciados.” Plutarco
Do livro: E
Depois...Sobre a Experiência e o Mistério da Vida Depois da Morte. Cap. XII,
págs.: 161 a 180. (Faras de Patmos)
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